Caça ao Tesouro
O Tesouro do país é coisa séria, muito séria. É
património dos cidadãos, amealhado durante décadas à conta de trabalho,
impostos, contribuições. Por isso, é algo precioso que os contribuintes
esperam ver confiado a gente séria, competente e com reputações à prova
de qualquer dúvida.
O Tesouro do país é coisa séria, muito séria. É património dos cidadãos, amealhado durante décadas à conta de trabalho, impostos, contribuições. Por isso, é algo precioso que os contribuintes esperam ver confiado a gente séria, competente e com reputações à prova de qualquer dúvida. Os tempos recentes, contudo, demonstram que o recrutamento para o lugar de zelador-mor do Tesouro nacional anda a seguir critérios duvidosos. O caso de Joaquim Pais Jorge é mais um exemplo de como um erro (intencional ou involuntário?) de ‘casting' coloca em risco a credibilidade de um Governo, a estabilidade de um país e, por fim, a própria integridade do Tesouro. Como se explica que alguém que, enquanto responsável de um banco, tenha tentado vender produtos financeiros a um Governo com o objectivo de maquilhar as contas públicas, acabe depois no Executivo desse mesmo país a gerir a tesouraria que, alegadamente, quis manipular? Até se pode explicar - mas como se confia em alguém assim? Depois, como se explica que alguém, numa inexplicável amnésia, não se lembre de ter estado numa reunião de alto nível com representantes de um Governo, mesmo que tenha sido há sete ou oito anos (como se fosse uma simples farra de amigos), e depois já não consiga garantir que não e steve?
Até se pode explicar - mas como se acredita nisso? Por fim, como se explica que alguém assuma um lugar público de alta responsabilidade e com exigências de transparência, por fim e já sem nenhuma saída airosa, diga que não está para se sujeitar ao escrutínio público de quem lhe paga o salário e lhe confia a gestão do património e que transformaram questões de interesse público em obstáculos do "domínio estritamente pessoal", como alegou no momento de sair e fechar a porta? Até se pode explicar - mas como se aceita isso? A resposta às três perguntas: não dá para confiar, não dá para acreditar, não há como aceitar.
Quem for escolhido para zelar pelo Tesouro nacional não pode ter a reputação de uma raposa a quem se entrega a guarda do galinheiro - pode até nunca cair em tentação, mas a reputação mina qualquer confiança. Esta escolha das Finanças - independentemente de ter havido algum ilícito criminal na manipulação do documento que liga Pais Jorge ao caso dos ‘swaps' (e que está a ser averiguado) - já demonstrou ter sido um erro. Porque o secretário de Estado não se explicou, não esclareceu, não foi transparente e não teve solidez para destruir as dúvidas.
O país já está nas cordas, o orçamento dos portugueses também, os níveis de confiança nem se fala. Não é por isso conveniente continuar a lidar com o Tesouro do país como se fosse uma brincadeira de crianças. Ou, pior, de piratas.
Acesse ao artigo em: O Económico
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