Regressar a Portugal? Já estamos muito bem instalados, muito obrigado
Não, senhor Secretário de Estado, não somos calões, nunca o fomos, somos
professores, enfermeiros, engenheiros, pescadores, operários, trabalhadores da
construção civil, etc
Ouvi dizer em como por essas bandas de Portugal existe agora um Secretário de
Estado interessado em ter os emigrantes de volta. Quais emigrantes, senhor
Secretário de Estado? Porque, afinal, ninguém emigrou do país, não, isso de as
pessoas terem tido que emigrar por causa das políticas de tantos governos,
incluindo o vosso, são tudo falsidades difundidas por um sem número de media
sedentos de sangue e sedentos de vendas no intuito único de maldizer o bom nome
de quem fez, e faz, tanto por Portugal. Não. Ninguém emigrou e não só eu não
estou a escrever esta crónica de Inglaterra, como aquilo que eu agora vi passar
nem sequer é um "double-decker" com destino a Charing Cross.
Não, isso são tudo invenções do meu cérebro, porque o Alzheimer não tarda em
atacar e o senhor doutor já me disse para pôr o comprimido debaixo da língua.
Porque, senhor Secretário de Estado, ninguém emigrou “derivado“ dos milhares de
empregos criados pelo seu Governo na presente legislatura. "Or so I’ve been
told". Não.
Mas se nos querem tanto de volta, comecem desde já por
reconhecer os vossos erros. Comecem desde já por admitir a vossa
responsabilidade no exílio, perseguição e expulsão de seiscentos mil
portugueses, assim desmembrando, dedo a dedo, braço a braço, sem anestesia nem
dó, o som dos ossos a partir e a carne a rasgar de seiscentas mil famílias, as
quais não nos terão de volta, mesmo sabendo ser esse o desejo de Vossa
Excelência: o senhor Secretário de Estado. Porquê? Porque já estamos muito bem
instalados, muito obrigado, empregados, remunerados, reconhecidos, com direito a
férias, subsídios de doença, licenças de maternidade e paternidade, pensões de
reforma e tudo o mais quanto o governo de Portugal tem insistido em atacar sob a
égide da calonice nacional.
Não, senhor Secretário de Estado, não somos calões, nunca o fomos, somos
professores, enfermeiros, engenheiros, pescadores, operários, trabalhadores da
construção civil, empregadas domésticas e empregados de hotel, erigimos países
inteiros e Portugal é demasiado pequeno para todos nós. Porque se nos querem de
volta, saiam vocês primeiro, mas de joelhos. E, ao saírem, não se esqueçam de
bater nas portas de todas as casas de todas as ruas de todas as vilas e cidades
de Portugal pedindo perdão por todo o sofrimento causado. Não o terão, mas o que
conta é a intenção.
Bravo João André. Não o diria melhor!!
Ler em: O Publico
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial