Passos esclarece: Contribuintes não pagam BES directamente. Podem é pagar indirectamente

Cavaco Silva disse ontem que "não faz sentido" 
dizer que os contribuintes vão pagar por prejuízos a enfrentar pela CGD 
na venda do Novo Banco. O primeiro-ministro disse hoje que, caso a venda
 do Novo Banco seja a um valor inferior ao injectado, haverá "efeitos 
indirectos".
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho
 acrescentou uma palavra ao seu discurso sobre a resolução do Banco 
Espírito Santo e a venda do Novo Banco, que herdou os activos 
considerados bons do primeiro banco. Essa palavra é "directamente". Não 
há prejuízos directos para os contribuintes. Mas poderá haver "efeitos 
indirectos".
"O Estado não usará dinheiro dos contribuintes para suportar 
directamente a resolução do banco [BES] nem as consequências da venda do
 Novo Banco", disse o líder do Executivo aos jornalistas, em imagens 
transmitidas pelas televisões nacionais, na sua visita a Oleiros.
Esta afirmação traz um acrescento àquelas que foram as suas 
intervenções sobre este tema. A 4 de Agosto, na sua primeira declaração 
sobre a medida aplicada pelo Banco de Portugal, Passos Coelho havia dito
 que a solução era "aquela que oferece, seguramente, maiores garantias 
de que os contribuintes portugueses não serão chamados a suportar as 
perdas que, neste caso, respeitam pelo menos a má gestão que foi 
exercida pelo BES".
Hoje, em Oleiros, Passos Coelho esclareceu que "há sempre efeitos 
indirectos, na medida em que o Estado tem um banco público e o prejuízo,
 a existir prejuízo na venda do Novo Banco, será suportado pelo sistema 
bancário". "Dado que o Estado tem um banco, é natural que possa haver, 
por parte da CGD, algumas perdas associadas", indicou o responsável do 
Executivo. Contudo, Passos Coelho sublinhou que nem todos os prejuízos 
que foram registados pelo banco liderado por José de Matos obrigaram a 
um apoio por parte dos contribuintes, ou seja, a injecções de capital. 
Nem sempre. Poderá acontecer, já que é a banca, em especial BCP e CGD, que terão de suportar eventuais prejuízos na alienação do Novo Banco.
"Não sabemos o que vai acontecer, se vai haver prejuízos", disse, 
referindo-se à venda daquele banco. A instituição liderada por Eduardo 
Stock da Cunha foi capitalizada pelo fundo de resolução da banca em 4,9 
mil milhões de euros, 3,9 mil milhões dos quais vindos de um empréstimo 
público. A alienação do Novo Banco vai servir para abater essa dívida. 
Um eventual diferencial (uma venda abaixo daquele preço) terá de ser 
suportado pelo fundo de resolução da banca, para o qual o BCP e a CGD 
são quem mais contribui.
Estas palavras contrariam o que havia sido dito por Passos Coelho logo após o resgate ao BES, quando assegurou que os contribuintes não seriam afectados. Declarações repetidas por Maria Luís Albuquerque, Carlos Costa (governador do Banco de Portugal) e também Cavaco Silva.
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O resgate ao BES
O Novo Banco, que herdou os activos bons do BES,
 recebeu uma injecção de capital de 4,9 mil milhões de euros. O fundo de
 resolução da banca, criado em 2012 para que fosse o sector a suportar 
os encargos com eventuais encargos, é o responsável por injectar esse 
dinheiro.
Mas o fundo não tinha, em Agosto de 2014, todo esse dinheiro. E pediu
 um empréstimo ao Tesouro estatal, que recorreu à linha de capitalização
 da troika, constituída aquando do resgate a Portugal. Esse empréstimo 
estatal é de 3,9 mil milhões de euros, cerca de 80% do total da 
capitalização do Novo Banco.
O restante dinheiro é assegurado pelo sector financeiro. O fundo 
contava já com 377 milhões, resultantes das contribuições já recebidas 
pelos bancos. E avançou com um empréstimo de 635 milhões de euros.
Agora, para que não se perca dinheiro, o Novo Banco terá de ser 
vendido a 4,9 mil milhões de euros. Se for alienado a um montante 
inferior, é o fundo de resolução que tem de arcar com as 
responsabilidades – como o próprio Banco de Portugal indica nos 
esclarecimentos sobre o tema.
"No caso de os custos finais da medida de resolução virem a ser 
superiores ao esforço assumido pelos accionistas e credores 
subordinados, os custos serão suportados pelo sector financeiro, através
 do Fundo de Resolução. Assim, no final, esta operação não envolve 
custos para o erário público. Esta conclusão mantém-se mesmo nos casos 
excepcionais, como o presente, em que o Estado seja chamado a prestar 
apoio financeiro temporário ao Fundo de Resolução, uma vez que esse 
apoio será posteriormente reembolsado (e remunerado através do pagamento
 de juros) pelo Fundo".
"Deste modo, no final da operação, o Estado não terá de suportar 
quaisquer custos relacionados com a resolução do Banco Espírito Santo, 
S.A.".
O sector financeiro arca com os eventuais encargos com uma venda 
abaixo da capitalização. Mas no sector português há um banco público, a 
Caixa Geral de Depósitos. A CGD e o BCP
 são os dois bancos que dão o maior contributo para o fundo de 
resolução, dada a sua dimensão. Logo, teriam de ser os dois a emprestar 
um maior montante numa eventual venda a um preço inferior ao injectado –
 o que poderia obrigar a medidas de capitalização, se o encargo for tal 
que afecte a solidez financeira das instituições e a coloque abaixo dos 
limites mínimos exigidos pelos reguladores.
Artigo completo em:   Jornal de Negócios




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